quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Nota de suicídio

Queridos e queridas,

Serve a presente como bilhete de suicídio da pequena doroteia.

A pequena doroteia é impulsiva, romântica, dramática. E fiel. Tudo isto num sentido esquisito, mas ainda assim nestas coisas do amor já cumpriu a sua pena. Parece-me apenas lógico que esta aventura acabe trágica e abruptamente. Como os romances.
Esta semana de actividade deu-me o honrado número de 469 visitas e muitas alegrias diversas, mas também me fez fumar e beber muito. Por falar nisso, acho que devo um pedido de desculpas nomeadamente às pessoas a quem posso ou não ter mandado e-mails que podiam ou não sugerir que mantínhamos uma amizade prévia a esta aventura, para ter mais seguidores e aumentar a piada da coisa. Por último mas não menos importante faço anos daqui a umas horas, o que me angustia sempre imenso e me dá vontade de mandar tudo às couves. Pois está mandado. A pequena doroteia meteu a cabeça no forno, mas para os mais sentimentais deixo aqui o endereço da minha velha casa - mais caquética e deprimente, muito menos esforçada e engraçada, but it's home. Um dia faço tudo de novo.

Canto do cisne

Inspirada nos acontecimentos recentes, faço um medley musical no meu Peugeot:


Shyness is nice, and
Shyness can stop you
From doing all the things in life you'd like to

'Cause if it's not love
Than it's the blog, the blog, the blog, the blog, the blog that will bring us together

Spending long summer days indoors
Writing frightening verse
To a buck-toothed girl in Luxembourg

(o compasso ralenta ao som triste de um la, la, la, la, la, la)

Afinal havia outra
E eu sem nada saber, sorria
E por ele andava louca
Pra ser sua mulher um dia

(um la, la, la, la, la, la muito positivo do Gordon Gano)

Não vou procurar quem espero
Se o que eu quero é navegar
Pelo tamanho das ondas
Conto não voltar

Esperam-me ondas que persistem
Nunca param de bater
Esperam-me homens que desistem
Antes de morrer

Por querer mais do que a vida
Sou a sombra do que eu sou
E ao fim não toquei em nada
Do que em mim tocou

(la la la la la la la la)

Eu vi
Mas não agarrei

(la la la la la la la la)


Mónica Violeta Smith, Vai askar romance a outro

A paciência é uma virtude

O escritor da internet finalmente respondeu à minha Carta de Amor!...
... a dizer que tem namorada.

What would Jesus do?

Jantar de Natal

Depois de três garrrafas de vinho argentino, diz-me o Patrão com voz entaramelada:
«Quanto mais te conhecer, melhor te posso vender.»

Não consigo argumentar contra isto.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Assume-mos

Dirijo-me ao balcão da Fnac porque depois de muitas voltas não consigo encontrar um determinado livro, daqueles muito indies e seminais que toda a gente que é gente jura a pés juntos que já leu. A mulher mal-disposta nunca ouviu falar, mas lá procura com as suas teclas e faz sinal a um estagiário para que o vá resgatar aos confins das prateleiras, abalando em seguida para a sua pausa para café-e-um-folhado. Passado um bocado lá volta ele todo contente com o volume na mão, e, só me vendo a mim junto do balcão, hesita. Com um sorriso entre o encabulado e o incrédulo, finalmente sai-lhe:
- Ah... é para si?
Sorrio educadamente, pego no livro e ponho-me a andar.
Era demasiado baixinho.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Mamas!

A pedido de várias famílias de leitores e comentadores, decide a pequena doroteia investir numa nova rubrica fotográfica, provisoriamente entitulada Double Menace - As Mamas da Doroteia. É ainda um projecto, é certo, mas prevejo uma grande aceitação.
Mais ou menos baseados nisto, vão imaginando enquanto descrevo:

  • As mamas da Doroteia bastante oleadas na praia
  • As mamas da Doroteia no Natal, quentinhas e enfeitadas
  • As mamas da Doroteia apertadinhas no Metro
  • As mamas aborrecidas da Doroteia na fila para pagar o gás
  • As mamas da Doroteia na discoteca, livres e rebeldes
  • As mamas da Doroteia saltitantes a ver o Sporting
  • As mamas da Doroteia muito ignoradas no Trumps
  • As mamas curiosas da Doroteia a espreitar num negligé da Triumph
  • As mamas românticas da Doroteia com a estradinha de tijolo amarelo por trás, partindo em direcção ao pôr-do-sol.


Tenho de reflectir, porque sei que algo deste género seria coisa para atirar a pequena doroteia para o tecto da blogosfera, o que para além de me retirar tempo livre podia significar o fim do ganha-pão de famílias inteiras. Eu cá tenho uma consciência social. As mamas da Doroteia, com a motivação certa, eram meninas para dar duas Masterclasses no Ritz.

Domingo

Ter sempre coisas giras para dizer é muito cansativo.
 
Então hoje andava a pôr a leitura em dia e dei de caras com isto:

«A parte melhor de conhecer alguém é podemos ser o que quisermos, e também nós próprios, para quem chega. (...) É a projecção do desconhecido que somos, também.»

É um pensamento muito bonito da Pólo Norte e que podem ler na íntegra aqui. Tocou-me particularmente porque é domingo e os excessos de fim-de-semana deixam-me sempre num estado vegetativó-sentimental. 
É que, para quem não sabe, a pequena doroteia nasceu para escrever uma única Carta de Amor, a um escritor da internet. Penso que deve ter gostado da sensação e quando dei por isso já tinha um blogue só dela e tudo, mas não foi assim uma coisa de propósito. Agora percebo o verdadeiro potencial do drunk mailing - continuo solteira, mas sem querer tenho um blogue com uma centena de visitas por dia. Isto sim, dá poder a uma gaja.



Achei que ele tinha uma maneira comovente de explicar o mundo, sei lá.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Clichés

Os homens tendem a apreciar mulheres cultas.
Pois que a vossa pequena doroteia ouviu isto e logo lhe apeteceu ir banhar-se de cultura - um bocadinho, sem exageros, que numa mulher a cultura quer-se assim qual pincelada de ovo no soufflé. (E esta graça vai para quem sabe de culinária, que eu cá faço graças para vários públicos.)
Ora então achei que devia ir ver um espectáculo de teatro do pós-underground, que vou contar em letras pequeninas para não vos maçar. Passem à frente.
Vi um espectáculo muito bonito para se ver de phones. A mim deram-me uma folha a dizer que aquilo era o Macbeth e que era feito pelo José Raposo, mas ele não sabia o texto e então andava a Mónica Calle o tempo todo atrás dele a dizer-lhe as deixas. Para disfarçar, como na Casa Conveniente não têm dinheiro para auriculares como o da Eunice Muñoz e eles não são cá de cabotinices, ela não só lhe dava as deixas como lhe dizia logo o texto todo, para ficar mais artístico, o que dava um Macbeth bicéfalo e com um timbre absolutamente tuberculoso e agoniante que é o dela, e ele coitadinho a tentar fazer boa figura mas já não se safava porque para além da voz a interpretação da mulher era um ai-jesus. A encenação era moderna, que é atirar o texto ao ar e as páginas que cairem no chão juntam-se num molhinho e faz-se aquilo pela ordem em que estiver. Depois como toda a gente diz que conhece a história do Macbeth no fim ninguém vai ter coragem para dizer que não percebeu, e hoje em dia é assim que se adapta um clássico e portanto podem perfeitamente fazer a experiência em casa e poupar dinheiro. Mas eu cá gostei. Eles tinham lanternas, pegavam fogo a coisas, andavam de baloiço, atiravam baldes de água uns aos outros e jogavam à porrada. Foi fixe. Principalmente os quatro pretos enormes e musculados e viris e másculos e varonis e acho que já me estou a repetir, que acho que também faziam parte da peça. Também tivemos direito a uma violação em série e a um nu integral da Mónica Garnel, que se ela não se despisse não conseguia representar tão bem como nos tem vindo a habituar e depois podia haver motins no Cais do Sodré. Mas a sério, tirando o nu da Mónica Garnel, plasticamente é um óptimo espectáculo. Acho que está em cena até sábado, mas se se esquecerem dos phones eles lá não vos vão emprestar.
Mas (olá outra vez!) o que eu queria mesmo dizer é que nesse tal espectáculo sentou-se na fila da frente um moço bonitinho e assim mesmo com o ar de quem vai a este tipo de coisa, com óculos de massa e um cachecol e tal. Ao lado dele senta-se a namorada, em quem eu reparei por ter umas mamas excepcionalmente enormes e um ar de quem não sabia bem quem era ou que estava a fazer, ainda para mais num pardieiro cheio de pulgas e ratos com madeirame artisticamente pendurado. O amor é tão bonito!, pensei eu. Nos momentos mais entediantes do espectáculo, espreitava pelo canto do olho e via-a bichanar aos ouvidos do pobre coitado, com aquele ar interrogativo adorável de quem perdeu o fio à meada da Casa dos Segredos mas quer muito muito muito mas mesmo muuuito perceber. O namorado, esse, estava com cara de quem está a ser distraído no instante em que o Benfica vai marcar o penálti. Tão queridos!, pensei eu. Gostam muito de se apaixonar pelas cultas, mas casam-se sempre é com as tontas.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

No trânsito

Nesta micro-pausa num dia atarefado, decido presentear-vos com um lindo pensamento sobre o trânsito.
Vêem-se muitas coisas giras no trânsito, apesar daquela crença popular amplamente disseminada sobre macacos do nariz.
Eu vejo muitas coisas no trânsito. Há uns tempos atrás, por exemplo, fartava-me de ver Nissans Qashqai pretos de matrícula GN. No entanto, desde que criei a pequena doroteia, farto-me de ver gajos giros.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Paixão pela escrita

Retomando o tema das causas mais prováveis de paixão. Não que eu seja de ideias fixas.

Paixão à primeira vista é coisa que não me acontece assim tantas vezes como isso. Penso que tenha algo a ver com os meus altos padrões estéticos. Já paixão à primeira leitura... Jesus (ler com sotaque americano).
Mas não é fácil. Entre todas as pessoas com sentimentos muito profundos que usam muitos advérbios, os blogues de futebol e-barra-ou política e o imenso mundo das bugigangas diversas feitas à mão por gajas com nomes acabados em "inha", é preciso um esforço para uma pessoa se apaixonar no grande esgoto que é a blogosfera. Requer uma certa quantidade de pesquisa. Normalmente tem de se ir ao A Causa Foi Modificada e pesquisar nos comentários. Toda a gente que é erudita lê A Causa Foi Modificada, embora eu ache que é por causa do título. Toda a gente que é gente sente que A Causa Foi, de facto, Modificada. É uma coisa de quem é culto. Depois, como aquilo até é feito de uma maneira inteligente para prevenir que os intelectuais se publicitem, há todo um outro trabalho que é o de googlar aquela gente toda; outra hipótese é ir só carregando no Blogue Seguinte!, e quando aparecer alguém que tenha um link para A Causa Foi Modificada a gente já sabe que pode ler à confiança.
Onde é que eu ia?
Ah, a paixão pela escrita. Dito assim até soa aceitável. A paixão pelo escritor - assim é que é.
Pois. Acontece-me algumas vezes, como romântica incorrigível que sou e blablabla. Os escritores da internet têm várias vantagens em relação ao comum mortal, como por exemplo, assim de repente, serem sensíveis e cheirarem sempre bem. 
No outro dia apaixonei-me por um escritor da internet e mandei-lhe uma Carta de Amor. Ele ainda não me respondeu.

Agora com surround!

Há qualquer coisa nesta canção. Há qualquer coisa em mulheres de voz suave e sotaque sibilado. Faz pensar em ingénuas de cinema, com olhos grandes e pequenos lábios vermelhos. Excelente banda sonora para este blogue.

Eat that, Martin Gore!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Da beleza

Há muitos motivos para uma pessoa se apaixonar.
O primeiro, e mais comum, é obviamente a beleza.
Segundo Stendhal, "A beleza é a promessa de felicidade"; diz Proust que as mulheres de beleza clássica só são apreciadas por homens sem imaginação (mas isto eu li no Alain de Botton, que leituras destas seriam coisas para me estragar irreparavelmente a frescura e o encanto).
Uma pessoa altamente romântica e inventiva, como eu, precisa de um rosto com personalidade. "Um rosto com personalidade" é a expressão que habitualmente se utiliza para descrever um desvio mais ou menos acentuado das regras da proporção - um nariz torto, por exemplo - por quem está apaixonado por esse mesmo nariz torto, ou simplesmente quer ser delicado. Um nariz torto, para a romântica que idealiza, é automaticamente um sinal de desrespeito do portador pelas convenções tacanhas da sociedade. Um queixo demasiado proeminente significa independência e força de vontade, e até uma ligeira teimosia adorável. Um sorriso desalinhado é piada, humor, malandrice.
Há homens que são objectivamente bonitos, sim. Mas o que é que alguém como eu faria com eles?
É que ainda por cima os homens não se querem para evidenciar os nossos defeitos. Para isso bastam as outras mulheres. E os gays.

Give me some crooked teeth anyday.

Tiques

Eu cá gosto muito de me apaixonar. Ainda hoje me apaixonei três vezes só até chegar à Baixa.
A melhor coisa de uma pessoa se apaixonar são as borboletas no estômago. Depois também há aquele ar luminoso e radiante que apanhamos e que faz toda a gente elogiar a nossa pele. Dizem que a gravidez faz o mesmo, mas eu sobre isso já não posso falar. Até porque se deve ficar com o centro de gravidade todo alterado e não deve dar jeito nenhum para andar toda fresca e a bambolear as ancas como há quem faça quando está apaixonada. Não é de propósito, acho que deve ser uma espécie de tique.
Enfim, eu gosto muito.

Era uma vez...

O diário da Doroteia.